quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Links sobre preconceito linguístico!!!!!!!!!!

Tentamos inserir o vídeo no blog, mas como todos sabem, computador não é o nosso forte, portanto, não conseguimos. Continuaremos tentando, enquanto isso, aqui vão alguns links do you tube de vídeos ligados a preconceito linguístico. Maravilhosos!!!! Aproveitem...
Beijos,
Fê e Fa
http://www.youtube.com/watch?v=iBHMajeluNg
http://www.youtube.com/watch?v=gNj36S3gJ54

Para refletir um pouco...

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Para quem gosta de Chomsky...

Biografia
Chomsky nasceu na cidade da Filadélfia, no estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos da América, filho de um estudioso do hebraico e professor, William Chomsky. Em 1945, começou a estudar Filosofia e Linguística na Universidade da Pensilvânia com Zellig Harris, professor com cuja visão política ele se identificou. Antes de receber seu doutoramento em Linguística pela Universidade da Pensilvânia em 1955, Chomsky realizou a maior parte de sua pesquisa nos quatro anos anteriores na Universidade de Harvard como pesquisador assistente. Na sua tese de Ph.D., um trabalho de mais de mil páginas, desenvolveu a sua abordagem original às ideias linguísticas, tendo um resumo sido publicado no seu livro de 1957 Syntactic Structures (Estruturas Sintácticas), numa editora holandesa, por recomendação de Roman Jakobson. A recensão crítica desta obra por Robert Lees teve um papel fundamental na sua divulgação e reconhecimento como trabalho revolucionário.
Depois de receber o doutoramento, Chomsky leciona no MIT há mais de 40 anos consecutivos, sendo nomeado para a "Cátedra de Línguas Modernas e Linguística Ferrari P. Ward". Durante esse período, Chomsky tornou-se publicamente muito empenhado no activismo político e, a partir de 1964, protesta activamente contra o envolvimento americano na Guerra do Vietname. Em 1969, publica o livro American Power and the New Mandarins (O Poder Americano e os Novos Mandarins), um livro de ensaios sobre essa guerra. Desde então Chomsky tornou-se mundialmente conhecido pelas suas idéias políticas , dando palestras por todo o mundo e publicando inúmeras obras. A sua ideologia política, classificada como socialismo libertário, rendeu inúmeros seguidores dentro do campo da "esquerda" mas também muitos detratores em todos os lados do espectro político. Durante este tempo, Chomsky continuou a pesquisar, a escrever e a ensinar, contribuindo regularmente com novas propostas teóricas que virtualmente definiram os problemas e questões centrais da investigação linguística nos útimos 50 anos.

Dedicatória e autógrafo de Chomsky em edição brasileira de um de seus livros
Em 1979, Paul Robinson escreveu no New York Times Book Review que "Pelo poder, alcance, inovação e influência de suas idéias, Noam Chomsky é indiscutivelmente o mais importante intelectual vivo, hoje." Contudo, Robinson continua o artigo dizendo que os trabalhos de Chomsky sobre Política são "terrivelmente simplistas". Chomsky observa que "se não fosse por esta segunda afirmação, eu era capaz de pensar que estava fazendo algo errado... é verdade que o imperador está nu, mas o imperador não gosta que digam isto a ele, e os cachorrinhos-de-colo do imperador como o The New York Times não vão gostar da experiência se você o fizer".
De acordo com o Arts and Humanities Citation Index, entre 1980 e 1992, Chomsky foi citado como uma "fonte" mais frequentemente que qualquer outro acadêmico vivo, e foi a octogésima fonte mais citada, no cômputo geral.
Chomsky também tem recebido crédito de grupos culturais. O grupo musical Rage Against the Machine leva cópias de seus livros em suas turnês. A banda de grunge Pearl Jam tocou pedaços de falas de Chomsky mixadas com algumas de suas músicas. O grupo de rock n' roll REM convidou o linguista para palestrar antes de seus shows, o que Chomsky recusou. Discursos de Chomsky têm sido apresentados em lados B dos álbuns da banda Chumbawamba e outros grupos. O cantor e ativista político Bono Vox, do grupo irlandês U2, disse que "Se o trabalho de um rebelde é derrubar o velho e preparar o novo, então este é Noam Chomsky, um rebelde sem pausas, o Elvis da Academia... Como o rock n'roll dos anos 90 continua sendo atado nas mãos, é irônico que um homem de 65 anos de idade tenha o real espírito rebelde".
A revista Rolling Stone escreveu que Chomsky "está no nível de Thoreau e Emerson no campo da literatura da rebelião". A Village Voice comentou que "Com que perspicácia (Chomsky) não fica enrolando e realmente diz alguma coisa!". Uma resenha no The Nation tinha a seguinte observação: "Não ler (Chomsky)... é cortejar a genuína ignorância".
"Avram" é uma outra forma de "Abraão". "Noam" é uma palavra hebraica que significa "desprazeroso", "sem prazer". "Chomsky é o nome eslavo "Хомский". A pronúncia original, de acordo com o Alfabeto Fonético Internacional, é [avram noam 'xomskij]. Geralmente é anglicizada para ['ævræm 'nəʊm 'tʃɒmᵖski] — ou ['ævræm 'noʊm 'tʃamᵖski] com o sotaque estadunidense.

[editar] Contribuição à Linguística
Syntactic Structures foi uma destilação do livro Logical Structure of Linguistic Theory (1955) no qual Chomsky apresenta sua idéia da gramática gerativa. Ele apresentou sua teoria de que os "enunciados" ou "frases" das línguas naturais devem ser interpretados em dois tipos de representação distintas: as "estruturas superficiais" correspondendo à estrutura patente das frases, e as "estruturas profundas", uma representação abstracta das relações lógico-semânticas das mesmas.
Esta distinção conserva-se hoje, na diferenciação entre Forma Lógica e Forma fonética, embora o processo de derivação transformacional com regras específicas tenha sido substituído pela operação de princípios gerais. Na versão de 1957/65 da teoria de Chomsky, as regras transformacionais (juntamente com regras de sintagmáticas, phrase structure rules e outros princípios estruturais) governam ao mesmo tempo a criação e a interpretação das frases. Com um limitado conjunto de regras gramaticais e um conjunto finito de palavras, o ser humano é capaz de gerar um número infinito de frases bem formadas, incluindo frases novas.
Chomsky sugere que a capacidade para produzir e estruturar frases é inata ao ser humano (isto é, é parte do patrimônio genético dos seres humanos) gramática universal. Não temos consciência desses princípios estruturais assim como somos não temos consciência da maioria das nossas outras propriedades biológicas e cognitivas.
As abordagens mais recentes, como o Programa Minimalista são ainda mais radicais na defesa de princípios económicos e óptimos na estrutura gramática universal. Entre outras afirmações, Chomsky diz que os princípios gramaticais subjacentes às linguagens são completamente fixos e inatos e que as diferenças entre as várias línguas usadas pelos seres humanos através do mundo podem ser caracterizadas em termos da variação de conjuntos de parâmetros (como o parâmetro pro-drop, que estabelece se um sujeito explícito é obrigatório, como no caso da língua inglesa, ou se pode ser opcionalmente deixado de lado (suprimido ou elidido), como no caso do português, italiano e outras).
Esses parâmetros são freqüentemente comparados a interruptores. A versão da gramática generativa que desenvolve a abordagem paramétrica é por isso designada princípios e parâmetros . Nesta abordagem, uma criança que está a aprender uma língua precisa adquirir apenas e tão somente os ítens lexicais necessários (isto é, as palavras) e fixar os parâmetros relevantes.
Esta abordagem baseia-se na rapidez espantosa com a qual as crianças aprendem línguas, pelos passos semelhantes dados por todas as crianças quando estão a aprender línguas e pelo fato que as crianças realizarem certos erros característicos quando aprendem sua língua-mãe, enquanto que outros tipos de erros aparentemente lógicos nunca ocorrem. Isto sucede precisamente, segundo Chomsky, porque as crianças estão a empregar um mecanismo puramente geral (isto é, baseado em sua mente) e não específico (isto é, não baseado na língua que está sendo aprendida).
As idéias de Chomsky continuam a influenciar significativamente a pesquisa que investigavam a aquisição de linguagem pelas crianças, muito embora se tenham desenvolvido nesta área abordagens neo-behaviouristas, ou mistas que privilegiam explicações baseadas em mecanismos gerais de aprendizagem, com variantes emergentistas ou conexionistas.

[editar] Gramática Ge(ne)rativa
A abordagem de Chomsky em relação à sintaxe, freqüentemente chamada de gramática gerativa, embora geralmente dominante, deu origem a escolas que dela divergem em aspectos técnicos como a Gramática Lexical-Funcional ou a HPSG. Noutros casos, há diferenças mais profundas, especialmente nas abordagens ditas funcionalistas, em parte herdeira do legado da Escola de Praga.
A análise sintática de Chomsky, muitas vezes altamente abstrata, se baseia fortemente em uma investigação cuidadosa dos limites entre construções gramaticais corretas e construções gramaticais incorretas numa língua. Deve-se comparar esta abordagem aos assim chamados casos patológicos (pathological cases) que possuem um papel semelhantemente importante em matemática. Tais julgamentos sobre a correção gramatical só podem ser realizados de maneira exata por um falante nativo da língua, entretanto, e assim, por razões pragmáticas, tais linguistas normalmente (mas não exclusivamente) focalizam seus trabalhos em suas próprias línguas-mães ou em línguas em que eles são fluentes (geralmente inglês, francês, alemão, holandês, italiano, japonês ou um das línguas do chinês).
Algumas vezes a análise da gramática gerativa não tem funcionado quando aplicada à línguas que não foram ainda estudadas. Desta maneira, muitas alterações foram realizadas na gramática gerativa devido ao aumento do número de línguas analisadas. Entretanto, as reivindicações feitas sobre uma linguística universal tem se tornado cada vez mais fortes e não têm se enfraquecido com o transcorrer do tempo. Por exemplo, a sugestão de Kayne, na década de 90, de que todas as línguas têm uma ordem Sujeito - Verbo - Objeto das palavras teria parecido altamente improvável na década de 60. Uma das principais motivações que estão por detrás de uma outra abordagem, a perspectiva funcional-tipológica (ou tipologia linguística, freqüentemente associada a Joseph H. O Greenberg), é basear hipóteses da linguística universal no estudo da maior variedade possível de línguas, para classificar a variação e criar teorias baseadas nos resultados desta classificação. A abordagem de Chomsky é por demais profunda e a dependente do conhecimento nativo da língua para seguir este método (embora tenha sido aplicada a muitas línguas desde que foi criada).

[editar] Hierarquia de Chomsky
Ver artigo principal: Hierarquia de Chomsky
Chomsky é famoso por pesquisar vários tipos de linguagens formais procurando entender se poderiam ser capazes de capturar as propriedades-chave das línguas humanas. A hierarquia de Chomsky divide as gramáticas formais em classes com poder expressivo crescente, por exemplo, cada classe sucessiva pode gerar um conjunto mais amplo de linguagens formais que a classe imediatamente anterior. De maneira interessante, Chomsky argumenta que a modelagem de alguns aspectos de linguagem humana necessita de uma gramática formal mais complexa (complexidade medida pela hierarquia de Chomsky) que a modelagem de outros aspectos. Por exemplo, enquanto que uma linguagem regular é suficientemente poderosa para modelar a morfologia da língua inglesa, ela não é suficientemente poderosa para modelar a sintaxe da mesma. Além de ser relevante em linguística, a hierarquia de Chomsky também tornou-se importante em Ciência da Computação (especialmente na construção de compiladores) e na Teoria de Autômatos.
Seu trabalho seminal em fonologia foi The sound pattern of English, que publicou juntamente com Morris Halle. Este trabalho é considerado ultrapassado (embora tenha sido recentemente reimpresso). Chomsky não pesquisa nem publica mais na área de fonologia.

[editar] Crítica da Linguística de Chomsky
Embora a abordagem de Chomsky seja reconhecidamente uma das melhores da Lingüistica, ela tem sido criticada por outros autores. Talvez a mais conhecida abordagem alternativa à posição de Chomsky seja a de George Lakoff e de Mark Johnson. O trabalho destes pesquisadores sobre Linguística cognitiva desenvolveu-se a partir da Linguística de Chomsky, mas difere dela de maneira significativa. Especificamente, argumenta contra os aspectos neo-cartesianos das teorias de Chomsky, eles afirmam que Chomsky falha em não levar em conta a incorporação extensiva da cognição. Como notado acima, a visão conexionista da aprendizagem não é compatível com a abordagem de Chomsky. Também, desenvolvimentos mais recentes em psicologia como, por exemplo, cognição localizada e psicologia discursiva não são compatíveis com a abordagem chomskiana.
De maneira ainda mais radical, os filósofos na tradição de Wittgenstein (como Saul Kripke) acham que a visão Chomskyana é fundamentalmente errada quanto ao papel das regras no que tange a cognição humana.
De maneira semelhante, os filósofos das tradições da fenomenologia, do existencialismo e da hermenêutica se opõem aos aspectos abstratos neo-racionalistas do pensamento de Chomsky. O filósofo contemporâneo que representa melhor esta visão é, talvez, Hubert Dreyfus, também famoso (ou notório) pelos seus ataques contra a inteligência artificial.

[editar] Contribuições à Psicologia

Ver artigo principal: Psicologia
O trabalho de Chomsky em Lingüistica teve implicações importantes para a Psicologia e foi um de seus principais direcionamentos, durante o século XX. Sua teoria da gramática universal foi uma crítica direta ao behaviorismo, fortemente estabelecido em seu tempo, e teve conseqüências importantes no entendimento de como a linguagem é aprendida pelas crianças e o que, exatamente, é a capacidade de interpretar linguagem. Os princípios mais básicos desta teoria são atualmente geralmente aceitos (embora não necessariamente as fortes reivindicações feitas pela abordagem de princípios e parâmetros descrita acima).
Em 1959, Chomsky publicou uma crítica - a qual obteve uma grande repercussão - do livro Verbal Behavior, escrito por B.F. Skinner, o mais aclamado dos psicólogos da tradição psicológica behaviorista (ou, em português, comportamentalista). Essa teoria, que tinha dominado a Psicologia na primeira metade do século XX, dizia que a linguagem era meramente um "comportamento aprendido". Skinner argumentava que a linguagem, como qualquer outro comportamento — desde a salivação de um cão ao antecipar seu jantar ao desempenho de um grande pianista — poderia ser atribuído a um "treinamento feito através de recompensas e penalidades durante certo período de tempo". A linguagem, segundo Skinner, podia ser completamente aprendida através das pistas e do condicionamento proveniente do mundo no qual aquele-que-aprende está imerso.
A crítica de Chomsky à metodologia e às pressuposições básicas de Skinner prepararam o caminho para uma revolução contra a doutrina behaviorista. Em seu livro de 1966, Línguistica Cartesiana e em trabalhos subseqüentes, Chomsky cria uma explicação das faculdades da linguagem humana que tornou-se um modelo para investigação em outras áreas da Psicologia. Muito da concepção atual de como a mente trabalha vem diretamente de idéias que, nos tempos modernos, encontraram em Chomsky seu primeiro autor.
Existem três idéias chave:
Primeiro, que a mente é "cognitiva", isto é, que a mente realmente contém estados mentais, crenças, dúvidas e assim por diante. A visão anterior negava mesmo isto, com a argumentação de que existem apenas relacionamentos "estímulo-resposta" tais como "Se você me pergunta se quero X, eu irei dizer sim". Mas Chomsky mostrou que a maneira mais comum de entender a mente, como ter coisas como crenças e mesmo estados mentais inconscientes, tinha de estar certo.
Segundo, Chomsky argumentou que muitas partes do que a mente adulta podia fazer era "inata". Isto é, embora nenhuma criança nascesse automaticamente sendo capaz de falar uma linguagem, todas as pessoas nascem com uma capacidade poderosa de aprendizado da linguagem que permite a eles dominar muitas linguagens muito rapidamente em seus primeiros anos de vida. Psicólogos subseqüentes têm estendido esta tese para além da linguagem de maneira que a mente não é mais considerada um "papel em branco" quando do nascimento.
Finalmente, Chomsky introduziu o conceito de "modularidade", uma característica crítica da arquitetura cognitiva da mente. A mente é composta de uma conjunto de subsistemas especializados que interagem entre si e que apresentam fluxos de intercomunicação limitados. Este modelo contrasta agudamente com a velha idéia segundo a qual qualquer parte de informação na mente poderia ser "acessada" por qualquer outro processo cognitivo. Ilusões ópticas, por exemplo, não "podem ser desligadas" mesmo quando se reconhece serem apenas ilusões.

Preconceito linguístico

terça-feira, 25 de novembro de 2008

quarta-feira, 22 de outubro de 2008


Aquisição da linguagem

Privilégio Humano


Para determinar se o homem é o único a utilizar a linguagem, devemos primeiro esclarecer o que entendemos por linguagem. Se definirmos a linguagem como a capacidade de comunicação, podemos dizer então que existem vários animais que se comunicam. No entanto, a linguagem humana é extremamente flexível e criativa, apoiada em regras gramáticas. Será se esse sistema também existe em outros animais?


O caso da abelha


Há mais de 2000 anos, o filósofo grego Aristóteles percebeu que quando uma abelha solitária descobre uma fonte de néctar, é logo seguida por outras abelhas. Em 1950, Karl von Frisch revelou que a abelha exploradora comunica-se com as outras por meio de uma intrincada dança. Frisch descobriu que a direção e a duração da dança informam às outras a direção e a distância da fonte de alimento. No entanto, apesar das abelhas se comunicarem com o canto e a dança, elas não se utilizam dos elementos da linguagem humana. (MYRES, 1999)


O caso dos macacos


Nos anos 40, vários psicólogos tentaram criar chimpanzés-bebês como uma criança humana, inclusive ensinando-os a falar. Apesar do treinamento, os chimpanzés nunca aprenderam a dizer mais que algumas poucas palavras. No entanto, esse fato é explicável, já que a posição da laringe dos macacos os impossibilita de produzir sons como os da fala humana. Estudos mais recentes incentivam os macacos a usarem a Linguagem Americana de Sinais (LAS) ou objetos para se comunicarem. Podemos citar o chimpanzé Washoe, treinado por Allen e Beatrice Gardner, e o gorila Koko, treinado por Francine Patterson, que conseguiram aprender o significado dos sinais, embora isso só prove que eles possuem uma boa memória. (BEAR et al, 2002)
Entretanto existe controvérsia sobre a criatividade da linguagem dos macacos. Os céticos afirmam que eles apenas unem símbolos de maneira aleatória, e em alguns casos conseguem unir palavras que tenham sentido.


O fato é que animais como abelhas, macacos, chimpanzés, golfinhos e outros, utilizam-se da linguagem para se comunicar, mas essa linguagem está longe da complexidade da linguagem humana.


Estágios de desenvolvimento da linguagem


Por que os bebês não nascem falando? Segundo Pinker (2002), os bebês humanos nascem antes de seus cérebros estarem completamente formados. Se os seres humanos permanecessem na barriga da mãe por um período proporcional àquele de outros primatas, nasceriam aos dezoito meses, exatamente a idade na qual os bebês começam a falar, portanto, nasceriam falando.
O cérebro do bebê muda consideravelmente depois do nascimento. Nesse momento, os neurônios já estão formados e já migraram para as suas posições no cérebro, mas o tamanho da cabeça, o peso do cérebro e a espessura do córtex cerebral, onde se localizam as sinapses, continuam a aumentar no primeiro ano de vida. Conexões a longa distância não se completam antes do nono mês e a bainha de mielina continua se adensando durante toda a infância. As sinapses aumentam significativamente entre o nono e o vigésimo quarto mês, a ponto de terem 50% a mais de sinapses que os adultos. A atividade metabólica atinge níveis adultos entre o nono e o décimo mês, mas continuam aumentando até os quatro anos. O cérebro também perde material neural nessa fase. Um enorme número de neurônios morre ainda na barriga da mãe, essa perda continua nos dois primeiros anos e só se estabiliza aos sete anos. As sinapses também diminuem a partir dos dois anos até a adolescência quando a atividade metabólica se equilibra com a do adulto. Dessa forma, pode ser que a aquisição da linguagem dependa de uma certa maturação cerebral e que as fases de balbucio, primeiras palavras e aquisição de gramática exijam níveis mínimos de tamanho cerebral, de conexões a longa distância e de sinapses, particularmente nas regiões responsáveis pela linguagem. (PINKER, 2002)


Balbuciando


É comum dividir o estágio inicial da aquisição de linguagem em duas fases: pré-lingüística e lingüística. No estágio pré-lingüístico, a capacidade lingüística da criança desenvolve-se sem qualquer produção lingüística identificável. Sem levar em conta as mudanças biológicas que facilitam o desenvolvimento lingüístico e ocorrem nos primeiros meses de vida da criança, é o balbuciar dos bebês de aproximadamente seis meses que sinaliza o começo da aquisição da linguagem. Esse período é tipicamente descrito como pré-lingüístico porque os sons produzidos não são associados a nenhum significado lingüístico. O estágio dos balbucios é marcado por uma variedade de sons que muitas vezes são usados em alguma das línguas do mundo, embora muitas vezes não sejam a língua que a criança irá, posteriormente, falar. O significado dessa observação não é claro. Alguns, como Allport (1924 in STILLINGS, 1987), afirmam que os balbucios sinalizam o começo da habilidade de comunicação lingüística da criança. Nesse estágio, os sons oferecem o repertório no qual a criança irá identificar os fonemas da sua língua. Por outro lado, McNeil (1970 in STILINGS, 1987) ressalta que a ordem que os sons aparecem durante o período de balbucio é, geralmente, contrária àquela que eles aparecem nas primeiras palavras da criança. Por exemplo, consoantes posteriores e vogais anteriores, como [k], [g] e [i], aparecem cedo nos balbucios das crianças, mas tarde no seu desenvolvimento fonológico.


Primeiras palavras


Segundo Stillings (1987), o primeiro estágio verdadeiramente lingüístico da criança parece ser o estágio de uma palavra. Nesse estágio, que aparece a poucos meses delas completarem um ano, as crianças produzem suas primeiras palavras. Durante esse estágio, as suas falas se limitam a uma palavra, que são pronunciadas de maneira um pouco diferente da dos adultos. Muitos fatores contribuem para essa pronúncia não usual: alguns sons parecem estar fora da escala auditiva das crianças, por dependerem da maturação de alguns nervos. Sons que são difíceis para a criança detectar, tornam-se difíceis para elas aprenderem. Além disso, alguns sons parecem ter uma articulação difícil para as crianças. Por exemplo, é comum ver crianças que possuem desenvolvimento lingüístico adiantado mas não conseguem pronunciar o [r]. Algumas vezes, sons fáceis podem se tornar difíceis na presença de outros sons. Por exemplo, crianças no estágio de uma palavra freqüentemente omitem o som das consoantes finais.
Crianças nessa fase, além de pronunciar as palavras de maneira diferente também querem dizer coisas diferentes com elas. Muitos pesquisadores perceberam que as crianças parecem expressar significados complexos com suas expressões curtas. É como se suas sentenças de uma palavra representassem um pensamento completo. Esse uso da linguagem indica que o desenvolvimento conceitual da criança tende a ultrapassar seu desenvolvimento lingüístico nos primeiros estágios da aquisição. Nós devemos traçar essa conclusão com cuidado, no entanto, já que julgamentos sobre o que as crianças querem disser nos seus primeiros estágios de desenvolvimento são difíceis de fazer.


Acessando essa e outras propriedades do sistema semântico da criança, nós temos que considerar a questão da natureza do significado. Em particular, é importante esclarecer que tipo de conhecimento a criança deve dominar durante o processo de aquisição de linguagem. A distinção de Frege (STILLINGS, 1987) entre sentido e referência é relevante; nós podemos explorar como as crianças formam e organizam conceitos e como elas aprendem a referenciá-los. Clark (1973 in SYILLINGS, 1987) e Anglin (1977 in STILLINGS, 1987) mostraram que as primeiras referências das crianças partem sistematicamente em duas direções particularmente opostas daquelas da comunidade falante dos adultos. Em alguns casos, as crianças usam as palavras para referenciar inapropriadamente um vasto número de objetos. Por exemplo, carro poder ser usado para referenciar um objeto grande que se move ou qualquer objeto que serve para fazer transporte. Em outros casos, crianças usam as palavras de uma maneira extremamente restrita, criando um drástico limite para um conjunto de referenciais permitidos. Por exemplo, uma criança usa a palavra cachorro para designar apenas o cachorro da família.
Esse superextensão e subextensão são bem freqüentes nos primeiros diálogos das crianças, mas decrescem quando seu léxico se torna similar ao dos adultos. A explicação de Clark (1973 in STILLINGS, 1987) para a aquisição semântica envolve, crucialmente, a hipótese de que as crianças aprendem o significado de uma palavra através da união de várias características semânticas que coletivamente constituem o conceito expresso pelo termo. De fato, essa hipótese sobre o desenvolvimento léxico vê a criança reunindo um banco de dados onde as características semânticas primitivas são associadas em grupo a um item lexical. Se uma criança, erradamente, associa muitas ou poucas características a um termo, o conceito resultante estará excessivamente generalizado ou excessivamente restrito, respectivamente, a superextensão e subextensão. Apesar dos detalhes da explicação serem controversos, a idéia de que as crianças constroem conceitos através de algum tipo de conceitual primitivo é mais aceitável. Como no caso da aquisição fonológica, existem evidências de que as crianças adquirem uma representação abstrata durante o aprendizado da sua língua, mesmo nos primeiros estágios de aquisição.
Dessa forma, mesmo que a primeira hipótese sobre aquisição de linguagem seja de que a criança simplesmente adquire sons e significados, a investigação das primeiras palavras da criança indica que o conhecimento adquirido por aquelas de um ano de idade toma a forma de um sistema rico de regras e representações. Como esses sistemas abstratos foram deduzidas, principalmente, através das experiências das crianças na comunidade lingüística, as diferenças entre a gramática da criança e a do adulto são compreensíveis.


O surgimento da sintaxe


A partir do estágio de duas palavras é possível examinar o desenvolvimento sintático, mesmo que seja de maneira rudimentar.


Uma hipótese popular sobre os padrões das expressões de duas palavras (BRAINE, 1963 in STILLINGS, 1987) diz que as crianças organizam seu vocabulário em duas classes lexicais chamadas de pivô e aberta. Assim, nesse estágio a fala da criança seria composta de duas palavras da classe aberta ou uma palavra da classe aberta e uma da classe pivô, já que no estágio de uma palavra elas utilizam palavras da classe aberta. Essa subdivisão dependerá da fala de cada criança, desse modo toda palavra usada sozinha pertencerá a classe aberta.


O ponto é que justaposição de palavras não implica relação semântica entre ela. Essas relações semânticas tendem a aparecer com o tempo, quando as combinações de palavras aumentarem. A primeira relação a aparecer é a de modificador-modificado (mais biscoito) e a de agente-ação (cachorro come). Essa relação semântica (algumas vezes chamada de relação temática) aparentemente começa no estágio de duas palavras. Alguns pesquisadores como Bloom (1970 in STILLINGS, 1987) e Bowerman (1973 in STILLINGS, 1987), propuseram que a relação temática é a primeira relação estrutural importante que a criança usa para construir expressões com mais de uma palavra, sugerindo que a gramática da criança seria mais bem descrita através das funções das palavras. Em vez de sintagma nominal e verbal, falaríamos em agente e ação. Outra sugestão dada por Berwick e Weinberg (1983 in STILLINGS, 1987), é que a primeira gramática das crianças está baseada na suposição de que toda relação sintática está correlacionada com uma relação temática. Desse modo, nos primeiros estágios de desenvolvimento, toda seqüência nome-verbo seria interpretada como agente-ação e similarmente para outras seqüências sintáticas.


O sistema lingüístico da criança nessa fase também é diferente do adulto. Além das diferenças de pronúncia e significado, elas também possuem uma gramática diferente da deles. Obviamente produzem sentenças mais breves; além da maioria delas serem sentenças inovadoras, não sendo apenas imitações da dos adultos.


Além do estágio de duas palavras


Embora os estágios de uma e duas palavras não tenham um início e um final determinado, existem características confiáveis para identificá-los. A partir desse ponto, no entanto, isso não será mais possível.


À medida que o MLU (média de palavras por expressão) aumenta, a complexidade da gramática que gerencia essas palavras torna-se mais complexas, no entanto, continua sendo deficiente em relação à dos adultos (crianças de dois e três anos). O discurso das crianças dessa idade é descrito como discurso telegráfico, omitindo pequenas palavras como determinantes e preposições. Além disso, existem problemas com as estruturas que não seguem uma regra geral, por exemplo, é comum as crianças dizerem eu trazi, generalizando a regra dos verbos regulares. O interessante é que antes de cometerem este erro, elas passam por uma fase em que usam o verbo adequadamente. Uma explicação para essa regressão é que no início elas simplesmente imitam a formação do verbo, mais tarde, no entanto, após aprender a regra de formação, elas simplesmente a aplicam para todos os verbos. Porém, com o passar do tempo acabam aprendendo a forma certa, mesmo que seja através da memorização.


Próximas fases de desenvolvimento


Após o estágio de duas palavras as crianças expandem seu vocabulário, aprendem as regras de construção (negativa, passiva, etc.) presentes na língua, aprendendo seu sistema fonológico e morfológico, aperfeiçoando sua pronúncia, e, geralmente, alcançando a convenção adulta de maneira bem rápida (entre os seis e sete anos), mesmo que demorem mais a aprender estruturas mais complexas, como a voz passiva.


O ponto crítico


Todos nós sabemos que é muito mais fácil aprender uma segunda língua na infância. A maioria dos adultos nunca chega a dominar uma língua estrangeira, sobretudo sua fonologia, o que gera o inevitável sotaque. Segundo Pinker (2002), "existem diferenças individuais, que dependem do esforço, qualidade de ensino e simples talento, mas, ainda assim e mesmo nas melhores circunstâncias, parece haver uma barreira intransponível para qualquer adulto."
Dados mais sistemáticos nos são fornecidos pela psicóloga Elissa Newport e seus colegas (PINKER, 2002). Eles testaram estudantes e professores da Universidade de Illinois nascidos na Coréia e na China que já viviam há pelo menos dez anos nos Estados Unidos. Aqueles que tinham migrado entre os 3 e 7 anos, alcançaram o desempenho dos americanos nativos. A partir desse ponto, quanto mais velho, pior era a assimilação da nova língua.


Quanto a língua materna, são raros os casos de pessoas que chegam a puberdade sem tê-la adquirido. Até os deficientes auditivos tem mais facilidade de aprender a língua de sinais antes da fase adulta. No caso de crianças selvagens encontradas na floresta ou em lares de pais psicóticos, elas podem aprender a se comunicar de forma clara ou não, dependendo da idade em que foram encontradas.


Resumindo, a aquisição de linguagem é certa até os seis anos, fica comprometida depois dessa idade até a puberdade e é rara depois disso. Uma explicação plausível seria as alterações maturativas que ocorrem no cérebro, tais como o declínio da atividade metabólica e do número de neurônios durante o início da vida escolar, e a estagnação no nível mais baixo do número de sinapses e da atividade metabólica por volta da puberdade.


Pinker (2002, p.374-5) cria uma metáfora interessante para tentar explicar essa perda de funcionalidade cerebral:


Imagine que o que os genes controlam não é uma fábrica mandando peças para o mundo, mas a oficina de uma companhia teatral de poucos recursos para a qual vários cenários, adereços e materiais retornam periodicamente a fim de serem desmanchados e remontados para a próxima produção. A qualquer hora, diferentes engenhocas podem ser produzidas na oficina, dependendo da necessidade do momento. A ilustração biológica mais óbvia é a metamorfose. [...] Mesmo nos humanos, o reflexo de sucção desaparece, os dentes nascem duas vezes e uma coleção de característica sexuais secundárias emergem dentro de um cronograma maturacional. Agora, complete a mudança de ponto de vista. Pense na metamorfose e nas mudanças maturacionais não como exceção mas como regra. Os genes, moldados pela seleção natural, controlam corpos ao longo de toda a vida; seus propósitos perduram enquanto forem úteis, nem antes nem depois. A razão para termos braços aos sessenta anos não é o fato de eles estarem ali desde o nascimento, mas porque braços são tão úteis para um sexagenário quanto o são para um bebê.


Segundo ele, nós não devemos perguntar "Por que a capacidade de aprender desaparece?", mas sim "Quando a capacidade de aprender é necessária?". Logo, ela deve aparecer o mais cedo possível, para podermos usufruí-la o maior tempo possível, no entanto, ela é extremamente útil apenas uma vez, depois passa a ser supérflua. "Assim, a aquisição lingüística deve ser como as outras funções biológicas. A inépcia lingüística de turistas e estudantes talvez seja o preço a pagar pela genialidade lingüística que demonstramos quando bebês, assim como a decrepitude da idade é o preço pelo vigor da juventude." (PINKER, 2002, p. 378)

sábado, 18 de outubro de 2008

O gigolô das palavras.




Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa ("Culpa da revisão! Culpa da revisão !"). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.




Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, mover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.



Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas - isso eu disse - vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.



Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa ! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.

Luís Fernando Veríssimo